quinta-feira, 21 de julho de 2011

Brasil aposentado



Hoje acordei sem norte
após um sonho mal dado
de um futuro desbotado
mas, na real,
era o hoje apresentado

Repentinamente,
rompeu-me o silêncio
de um Brasil aposentado.


Viril Estado fraco, 
inútil e quebrado
cujas histórias e conquistas,
manuscritas em legislativos,
foram parar 
no vão esquecimento,
junto às histórias 
“pra boi dormir”

Seu aposento 
não veio por mérito
de suas longas madeixas brancas,
ou quem diga
por seu tempo de contribuição,
mas sim
pelos longos anos de exploração,
coerção e alienação

Senhor mor 
em ludibriar a realidade alheia,
transfigura ‘o nosso’ em ‘meu’,
ou melhor, em  ‘their’*

Profissionalizou-se 
na arte ilusionista,
encantando todos à sua volta
como um País das maravilhas,
E assim, foi silenciando
E assim, foi desmobilizando
E assim, foi comprando seu aposento,
pago à Terceiros e Particulares,
sob um mar de valia

Agora,
de diferente nada parecia,
nada de sonho ou fantasia,
só silêncio e descaso
pelo real configurado
de um jovem Estado aposentado...

(Suzianne Santos)
*Tradução: deles

terça-feira, 14 de junho de 2011

Velho casebre


Aquela moça,
Sempre,
ao velho casebre retornava

Acompanhada por um amargo vinho,
recordava folhas amareladas,
linhas oblíquas,
outrora bonitas,
agora apenas distantes

Insistia em ouvir
aquela bela melodia,
mas só repetia
um estrondoso ruído,
reprodução do acabado e imprestável
de cicatrizes passadas

A candura não mais havia,
assim como seu florido jardim,
frio e seco

Ninguém valorizava o casebre,
repudiavam sua incompletude decadente,
exceto aquela moça,
que de feio nada via,
pois era lá
que seu amor renascia...

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Em defesa dos bons costumes ou da intolerância social?

         É perturbador quando, ao amanhecer, você espera construir um futuro mais democrático, no entanto, se depara com resquícios tão presentes de um passado teocêntrico e intolerante socialmente... Talvez soe em tom exagerado, mas um certo abalo no imobilismo social é preciso quando decisões governamentais se encontram novamente à mercê de parâmetros e dogmas religiosos, principalmente quando se está em um Estado, há décadas, declaradamente laico.
Nos últimos dias, chama a atenção o quanto pode incomodar aos “bons preceitos” da sociedade ocidental a socialização e busca contra a estigmatização, desde cedo, de comportamentos não enquadrados dentro do “normal” social. Aqui entra no centro do debate a permissão ou não a nível presidencial da distribuição de material educativo contra homofobia em escolas, que ficou conhecido como “kit anti-homofobia”.
Nesta semana a presidente Dilma Rousseff, declarou a suspensão dos “kits anti-homofobias” por considerar o material inadequado e não achar prudente editar esse material. À primeira vista, principalmente dos conservadores, pode parecer uma decisão cautelosa, entretanto, inquieta a sua suspensão mesmo depois de tal material ter uma avaliação positiva por instituições específicas de educação. Soa mais estranho ainda saber que a presente decisão foi tomada pouco depois de reunião de bancada evangélica na Câmara dos Deputados. Ora...Em que se fundamenta o posicionamento presidencial? Parece mais uma vez entrar em cena uma velha discussão: pesa mais o conhecimento crítico-intelectual ou o conhecimento valorativo?
De um lado, encontra-se o MEC (Ministério da Educação), a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o movimento LGBT e demais movimentos sociais e conselhos profissionais que são favoráveis ao conteúdo do “kit” e de sua livre distribuição. Do outro, representatividades políticas e entidades religiosas cujos preceitos e doutrina consideram certas práticas sociais ofensivas aos bons costumes.
A UNESCO entende que sua publicização “contribuirá para a redução do estigma e da discriminação, bem como para promover uma escola mais equânime e de qualidade”¹. Já deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), considera que tal material estimula “a homossexualidade, a promiscuidade e [é] uma porta à pedofilia”¹ e conta com apoio dos pais de alunos, que não permitirão a exibição do material: “Eu já tenho apoio de pais e diretores que me procuram preocupados e vão acionar o corpo docente”¹.
A prudência presidencial em discutir questões que interfiram em valores incomoda, mas até onde tais valores interferem no valor e liberdade de “se ser” inquieta mais ainda. A fala do deputado sobre posicionamento dos pais apresenta mais motivos para incentivar a socialização de material anti-discriminatório do que coibi-lo. Não é a maior publicização das diferenças que ocasiona a diversidade social que somos, na verdade, seja que diferença for, ela sempre existiu, mas, ela se encontra há tempos invisibilizada pela sociedade, que prefere ocultá-las à trazer aos holofotes sua existência. Talvez pensem que sua não discussão evite o rompimento com padrões e o ideal normatizador do comportamento humano, mas, se por um segundo que fosse, ampliassem um pouco mais sua visão tão unilateral, irão ver que já se trata de uma sociedade pluricultural, cujas diferenças são ressaltadas e formas de coibir o maior conhecimento sobre o diferente não vai ajudar em sua diminuição, mas na produção e reprodução de estigmas e olhares preconceituosos para o que chama a diferenciação.
Pensemos... E se no Brasil permeasse ainda um forte posicionamento cultural e institucional favorável ao racismo, iria se apoiar e ir contra a distribuição e socialização de materiais anti-racista porque fere os valores enraizados na sociedade? E os valores enquanto cidadão e a liberdade de ser das pessoas envolvidas como ficam? Não significa que queremos tirar a importância e valor das culturas e costumes, mas pensemos no que é mais prioritário à uma nação: doutrinas clássicas ou a dignidade humana? Assim como se deve respeitar os diversos posicionamentos culturais e costumes, que também se lute pela tolerância do ser social, respeitando-o em sua individualidade.
Como bem traz o texto constitucional logo em seu início, “deve ser promovido o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”² e que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”³. Então, não deixemos que questões religiosas voltem a interferir em decisões governamentais e no direito à informação e construção de uma sociedade livre e mais justa.
A intolerância à diversidade social representa um retrocesso à consideração dos direitos humanos e à dignidade humana. De nada adianta um aparato legal pautado pela cidadania e em defesa de uma sociedade livre e igualitária se os representantes oficiais não estão imbuídos intrinsecamente de seus preceitos para possibilitar a sua real efetivação. Não se deve tomar decisões coletivas subsidiada por apreensões particulares, afunilar a visão e inundar as decisões governamentais por pré-conceitos que vão de encontro à tolerância e direito de ser do outro. A proibição valorativa de material educativo sobre formas distintas de identidade de gênero representa uma derrota ao movimento LGBT, mas mais ainda à construção de uma sociedade que pense no futuro livre das amarras de um passado conservador e estigmatizador.

Suzianne Santos    



² Artigo 3º, inciso IV da Constituição Federal Brasileira
³ Artigo 5º, inciso VIII da Constituição Federal Brasileira

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Retratos - um vísivel invisível


- Seu dono, peço nada mais que um minuto de teus olhos atarefados, mas deixa que falo aqui na penumbra mesmo que nela já sou acostumado até porque por mais que na luz tivesse, faltaria clareza para você me reconhecer ao teu lado. A noite é minha amiga e a escuridão é abrigo, aqui sou por completo o que todo dia sou pra ti, um visível invisível, mas calma, diferença isso não faz, tua indiferença já me tirou as cores de todo dia. Enfim, meu minuto se acaba...o que quero dizer é que posso ser mendigo, louco, favelado, ladrão, o que queira chamar, mas não esqueça que também sinto...como sinto...e um dia, um dia já fui espelho teu, já fui do teu mundo. E agora, aonde vim parar? Horas vazio, outras anestesiado.Sou feito lixo, apenas um objeto descartável de validade social vencida. No inicio eu tentava viver, tentava me mostrar diante dos cegos por seleção, tentava pedir ao dono o mínimo de consideração, mas lá se vinha    “-Hun? Não. Pare, mire e veja, não dê esmola, dê cidadania”...C-I-D-A-D-A-N-I-A...mas me cite qual a minha?? Onde ela tá?? Letras garrafais não satisfazem minha fome e necessidade que são foraz.. Hoje sou parte do escuro invisível, não vivo nem sobrevivo, apenas passo.. Vá, podem ir..Não tenho fé mesmo de que vá melhorar...mas ainda trago um pouco de força para o que virá...

Suzianne Santos


* na foto - cidadão de papelão http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/732486/

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sem maiores julgamentos

Sempre me inquieta a pergunta “Você tem preconceito?” Todos querem responder que não, mas na verdade, penso ser uma pergunta sem resposta ou ao menos perguntada de forma errada.
Como posso dizer se tenho ou não se nunca me vi diante de uma situação onde meu lado moralmente julgamentista fosse colocado à prova? Como dizer não ter preconceito de gênero se no primeiro desencontro automobilístico (melhor, encontro), se solta aquele comentário “só pode ser mulher”?; como defender a diversidade se quando a situação se mostra ameaçadora o olhar volta-se para a diferença de cor, ou então não suporta vê casais gays e lésbicas manifestando seu afeto como qualquer outro casal?
A teoria difere-se da prática. Dizer que não tem preconceito é diferente de dizer que não quer ter. Muito simples e confortante afirmar não ser preconceituoso ou não rotular os outros, outra coisa é não olhar com discriminação e entender a questão sob diversos aspectos e pontos de vista.
Engraçado como rapidamente consideramos alguém de santo para monstro e vice-versa. Despertou minha inquietude ver em capa de revista chamando de monstro o atirador da escola Realengo, Rio de Janeiro (de novo essa questão). Não digo que apoio a atitude dele, pois de nada adianta tentar reparar injustiça com outra injustiça...mas convenhamos, aqueles que inicialmente encheram sua infância com rótulos e estigmas não seriam também “monstros”? Aglutinando-se ao histórico de vida dele, seriam ao menos uma peça de um “efeito dominó”.
Agora volto à questão...você pode se dizer livre de preconceitos se já retratou apelidos ou comentários um tanto maldosos a outras pessoas, se já olhou alguém com desconfiança, apenas por ser diferente de você? É, calma, não somos perfeitos e numa sociedade permeada por individualismo, “cada um em seu quadrado” e um constante medo do outro (terrorismo social que cada vez mais casos de violência trazem ao seu cotidiano) é difícil não produzir preconceitos.
Bem que queria uma sociedade onde não tivéssemos um código de barras esculpindo nosso rótulo, mas na medida que somos seres valorativos, subjetivos e de diferentes culturas e costumes, isso fica complicado. Ao menos não sejamos extremistas, “8 ou 8.000”. Ninguém é santo ou demônio em carne e osso, apenas somos um conjunto de fatos e consequências de sociabilidades. Para entender o comportamento dos outros temos que aprender a relativizar os pontos de vista, ampliar a visão e compreender ações sob mais de um plano. Isso não significa aceitar tudo, mas no mínimo tentar entender o outro sem roupagens estigmatizantes.

(Suzianne Santos)

domingo, 17 de abril de 2011

Sinceridade seja dita



Ela era muda, ou ninguém nada lhe perguntava. O fato é: não havia interesse em saber o que ela trazia consigo. De certa forma, ela produzia um medo, um receio tão ensurdecedor pelo o que ao torna-se voz causaria, sendo em vista sua omissão a melhor saída. Mas ela nem sempre seguia o que todos queriam. Já saturada de seu peso, que sinceridade seja dita. Ela ecoou como um rompante estridente, alumiando o que esconder queriam e não mais podiam.
- A consciência tem dessas coisas...

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Desabafo..."Peço a benção pra passar"

Porque tua falta ainda faz falta..porque pensar em não mais te encontrar a sorrir, dói na alma. Porque sou feita de presenças e saber da tua atual constante ausência e imaginar teu sofrimento vivido me consome por dentro como se a maior injustiça tivesse sido cometida..Só me resta o alento das lembranças tuas, sempre a acariciar no peito e trazer um leve sorriso salgado e que assim como todo carinho que se foi  e ficou, que se vá e fique em sua paz...


(Suzianne Santos)