quinta-feira, 28 de abril de 2011

Retratos - um vísivel invisível


- Seu dono, peço nada mais que um minuto de teus olhos atarefados, mas deixa que falo aqui na penumbra mesmo que nela já sou acostumado até porque por mais que na luz tivesse, faltaria clareza para você me reconhecer ao teu lado. A noite é minha amiga e a escuridão é abrigo, aqui sou por completo o que todo dia sou pra ti, um visível invisível, mas calma, diferença isso não faz, tua indiferença já me tirou as cores de todo dia. Enfim, meu minuto se acaba...o que quero dizer é que posso ser mendigo, louco, favelado, ladrão, o que queira chamar, mas não esqueça que também sinto...como sinto...e um dia, um dia já fui espelho teu, já fui do teu mundo. E agora, aonde vim parar? Horas vazio, outras anestesiado.Sou feito lixo, apenas um objeto descartável de validade social vencida. No inicio eu tentava viver, tentava me mostrar diante dos cegos por seleção, tentava pedir ao dono o mínimo de consideração, mas lá se vinha    “-Hun? Não. Pare, mire e veja, não dê esmola, dê cidadania”...C-I-D-A-D-A-N-I-A...mas me cite qual a minha?? Onde ela tá?? Letras garrafais não satisfazem minha fome e necessidade que são foraz.. Hoje sou parte do escuro invisível, não vivo nem sobrevivo, apenas passo.. Vá, podem ir..Não tenho fé mesmo de que vá melhorar...mas ainda trago um pouco de força para o que virá...

Suzianne Santos


* na foto - cidadão de papelão http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/732486/

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sem maiores julgamentos

Sempre me inquieta a pergunta “Você tem preconceito?” Todos querem responder que não, mas na verdade, penso ser uma pergunta sem resposta ou ao menos perguntada de forma errada.
Como posso dizer se tenho ou não se nunca me vi diante de uma situação onde meu lado moralmente julgamentista fosse colocado à prova? Como dizer não ter preconceito de gênero se no primeiro desencontro automobilístico (melhor, encontro), se solta aquele comentário “só pode ser mulher”?; como defender a diversidade se quando a situação se mostra ameaçadora o olhar volta-se para a diferença de cor, ou então não suporta vê casais gays e lésbicas manifestando seu afeto como qualquer outro casal?
A teoria difere-se da prática. Dizer que não tem preconceito é diferente de dizer que não quer ter. Muito simples e confortante afirmar não ser preconceituoso ou não rotular os outros, outra coisa é não olhar com discriminação e entender a questão sob diversos aspectos e pontos de vista.
Engraçado como rapidamente consideramos alguém de santo para monstro e vice-versa. Despertou minha inquietude ver em capa de revista chamando de monstro o atirador da escola Realengo, Rio de Janeiro (de novo essa questão). Não digo que apoio a atitude dele, pois de nada adianta tentar reparar injustiça com outra injustiça...mas convenhamos, aqueles que inicialmente encheram sua infância com rótulos e estigmas não seriam também “monstros”? Aglutinando-se ao histórico de vida dele, seriam ao menos uma peça de um “efeito dominó”.
Agora volto à questão...você pode se dizer livre de preconceitos se já retratou apelidos ou comentários um tanto maldosos a outras pessoas, se já olhou alguém com desconfiança, apenas por ser diferente de você? É, calma, não somos perfeitos e numa sociedade permeada por individualismo, “cada um em seu quadrado” e um constante medo do outro (terrorismo social que cada vez mais casos de violência trazem ao seu cotidiano) é difícil não produzir preconceitos.
Bem que queria uma sociedade onde não tivéssemos um código de barras esculpindo nosso rótulo, mas na medida que somos seres valorativos, subjetivos e de diferentes culturas e costumes, isso fica complicado. Ao menos não sejamos extremistas, “8 ou 8.000”. Ninguém é santo ou demônio em carne e osso, apenas somos um conjunto de fatos e consequências de sociabilidades. Para entender o comportamento dos outros temos que aprender a relativizar os pontos de vista, ampliar a visão e compreender ações sob mais de um plano. Isso não significa aceitar tudo, mas no mínimo tentar entender o outro sem roupagens estigmatizantes.

(Suzianne Santos)

domingo, 17 de abril de 2011

Sinceridade seja dita



Ela era muda, ou ninguém nada lhe perguntava. O fato é: não havia interesse em saber o que ela trazia consigo. De certa forma, ela produzia um medo, um receio tão ensurdecedor pelo o que ao torna-se voz causaria, sendo em vista sua omissão a melhor saída. Mas ela nem sempre seguia o que todos queriam. Já saturada de seu peso, que sinceridade seja dita. Ela ecoou como um rompante estridente, alumiando o que esconder queriam e não mais podiam.
- A consciência tem dessas coisas...

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Desabafo..."Peço a benção pra passar"

Porque tua falta ainda faz falta..porque pensar em não mais te encontrar a sorrir, dói na alma. Porque sou feita de presenças e saber da tua atual constante ausência e imaginar teu sofrimento vivido me consome por dentro como se a maior injustiça tivesse sido cometida..Só me resta o alento das lembranças tuas, sempre a acariciar no peito e trazer um leve sorriso salgado e que assim como todo carinho que se foi  e ficou, que se vá e fique em sua paz...


(Suzianne Santos)

terça-feira, 12 de abril de 2011

A menina que pro vento sorria



Perguntei pra'quela menina
o porquê ao vento sorria,
ela sem desalento dizia:
- O que mais você queria
se ele a mim acaricia
e leva a dor que aqui existia?

(Suzianne Santos)

sábado, 9 de abril de 2011

Atendendo a pedidos

     Atendendo a pedidos, abro os olhos, me alimento, pego o ônibus e dedico parte de mim pra te atender. Atendendo a pedidos, paro o sonho, lancho, corro e mediado serviços. Atendendo a pedidos, acordo, passo, não olho e vaicomosair. Atendendo a pedidos, ligo, transporto, mecanizo. Atendendo a pedidos, atendo a pedidos atendendo a pedidos. Já não reconheço mais teus traços e gestos, na minha frente só vejo números em catalogações. Atendendo a pedidos, ligo e desligo num movimento constante de uma máquina pós-moderna. Atendendo a pedidos, respiro tuas marcas e espero o sensacionalismo pra me abalar.Atendendo a pedidos, me hipnotizo e rotulizo. Atendendo a pedidos, ligo e não desligo. Atendendo a pedidos, não reflito, apenas digito. Atendendo a pedidos...para!me demito!desligo!Há algo que ainda se inquieta com esse comodismo que nada vê e tudo condena. Agora eu que digo, atenda ao meu pedido. 
     Ele não é um número, há anotações e descrições subjetivas por detrás daquelas lentes já vividas. Ele não é um insano, apenas um que sofreu, se trancou e se condenou à autodestruição. Ele não é a personificação do heroísmo, apenas alguém que pensou com altruísmo. Não espere o sensacionalismo para vê o que todo dia está na sua frente, fotos e reportagens não produzem inverdades ou fabricam bombas de moralismo social. Acorde e se desmecanize, tire esse invólucro que comerciais eleitorais trazem à sua mente. Atenda ao pedido de não atender e entender a si entender.

(Suzianne Santos)

sábado, 2 de abril de 2011

Sinta



A cada união silábica
sinta dor e prazer
Quero sugar cada gota tua
e te inundar num caos
de solidão à deriva
do inferno de ser,
mas também
quero te entorpecer
de alegrias partidas
e delíricos prazeres,
inquietá-lo dessa posição inerte
de quem apenas lê
Sinta,
Cheire,
Saboreie,
mas sinta ao seu bel prazer
que o que escrevo
são apenas momentos meus e teus
transcritos em intensa batida
Permita-se sentir,
Prove os dias,
Que'u tempero tuas linhas

(Suzianne Santos)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A favor das asas



Não aprisione
o que nasceu para o ar,
sua leveza e candura
só desejam brincar com o vento
Bela como um arco-íris
e de livre circular,
dança pelos caminhos
que a curta vida lhe levar
Muda pra viver
e vive de mudar,
a nada se torna constante
e o mundo a si pertence
Não se toma para si
o que é livre em essência
É borboleta gente,
asas de dom e de mente

(Suzianne Santos)

Fim



No fim tudo é tênue
No fim, tudo é cinza
No fim...

(Suzianne Santos)