quinta-feira, 21 de julho de 2011

Brasil aposentado



Hoje acordei sem norte
após um sonho mal dado
de um futuro desbotado
mas, na real,
era o hoje apresentado

Repentinamente,
rompeu-me o silêncio
de um Brasil aposentado.


Viril Estado fraco, 
inútil e quebrado
cujas histórias e conquistas,
manuscritas em legislativos,
foram parar 
no vão esquecimento,
junto às histórias 
“pra boi dormir”

Seu aposento 
não veio por mérito
de suas longas madeixas brancas,
ou quem diga
por seu tempo de contribuição,
mas sim
pelos longos anos de exploração,
coerção e alienação

Senhor mor 
em ludibriar a realidade alheia,
transfigura ‘o nosso’ em ‘meu’,
ou melhor, em  ‘their’*

Profissionalizou-se 
na arte ilusionista,
encantando todos à sua volta
como um País das maravilhas,
E assim, foi silenciando
E assim, foi desmobilizando
E assim, foi comprando seu aposento,
pago à Terceiros e Particulares,
sob um mar de valia

Agora,
de diferente nada parecia,
nada de sonho ou fantasia,
só silêncio e descaso
pelo real configurado
de um jovem Estado aposentado...

(Suzianne Santos)
*Tradução: deles

terça-feira, 14 de junho de 2011

Velho casebre


Aquela moça,
Sempre,
ao velho casebre retornava

Acompanhada por um amargo vinho,
recordava folhas amareladas,
linhas oblíquas,
outrora bonitas,
agora apenas distantes

Insistia em ouvir
aquela bela melodia,
mas só repetia
um estrondoso ruído,
reprodução do acabado e imprestável
de cicatrizes passadas

A candura não mais havia,
assim como seu florido jardim,
frio e seco

Ninguém valorizava o casebre,
repudiavam sua incompletude decadente,
exceto aquela moça,
que de feio nada via,
pois era lá
que seu amor renascia...

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Em defesa dos bons costumes ou da intolerância social?

         É perturbador quando, ao amanhecer, você espera construir um futuro mais democrático, no entanto, se depara com resquícios tão presentes de um passado teocêntrico e intolerante socialmente... Talvez soe em tom exagerado, mas um certo abalo no imobilismo social é preciso quando decisões governamentais se encontram novamente à mercê de parâmetros e dogmas religiosos, principalmente quando se está em um Estado, há décadas, declaradamente laico.
Nos últimos dias, chama a atenção o quanto pode incomodar aos “bons preceitos” da sociedade ocidental a socialização e busca contra a estigmatização, desde cedo, de comportamentos não enquadrados dentro do “normal” social. Aqui entra no centro do debate a permissão ou não a nível presidencial da distribuição de material educativo contra homofobia em escolas, que ficou conhecido como “kit anti-homofobia”.
Nesta semana a presidente Dilma Rousseff, declarou a suspensão dos “kits anti-homofobias” por considerar o material inadequado e não achar prudente editar esse material. À primeira vista, principalmente dos conservadores, pode parecer uma decisão cautelosa, entretanto, inquieta a sua suspensão mesmo depois de tal material ter uma avaliação positiva por instituições específicas de educação. Soa mais estranho ainda saber que a presente decisão foi tomada pouco depois de reunião de bancada evangélica na Câmara dos Deputados. Ora...Em que se fundamenta o posicionamento presidencial? Parece mais uma vez entrar em cena uma velha discussão: pesa mais o conhecimento crítico-intelectual ou o conhecimento valorativo?
De um lado, encontra-se o MEC (Ministério da Educação), a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o movimento LGBT e demais movimentos sociais e conselhos profissionais que são favoráveis ao conteúdo do “kit” e de sua livre distribuição. Do outro, representatividades políticas e entidades religiosas cujos preceitos e doutrina consideram certas práticas sociais ofensivas aos bons costumes.
A UNESCO entende que sua publicização “contribuirá para a redução do estigma e da discriminação, bem como para promover uma escola mais equânime e de qualidade”¹. Já deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), considera que tal material estimula “a homossexualidade, a promiscuidade e [é] uma porta à pedofilia”¹ e conta com apoio dos pais de alunos, que não permitirão a exibição do material: “Eu já tenho apoio de pais e diretores que me procuram preocupados e vão acionar o corpo docente”¹.
A prudência presidencial em discutir questões que interfiram em valores incomoda, mas até onde tais valores interferem no valor e liberdade de “se ser” inquieta mais ainda. A fala do deputado sobre posicionamento dos pais apresenta mais motivos para incentivar a socialização de material anti-discriminatório do que coibi-lo. Não é a maior publicização das diferenças que ocasiona a diversidade social que somos, na verdade, seja que diferença for, ela sempre existiu, mas, ela se encontra há tempos invisibilizada pela sociedade, que prefere ocultá-las à trazer aos holofotes sua existência. Talvez pensem que sua não discussão evite o rompimento com padrões e o ideal normatizador do comportamento humano, mas, se por um segundo que fosse, ampliassem um pouco mais sua visão tão unilateral, irão ver que já se trata de uma sociedade pluricultural, cujas diferenças são ressaltadas e formas de coibir o maior conhecimento sobre o diferente não vai ajudar em sua diminuição, mas na produção e reprodução de estigmas e olhares preconceituosos para o que chama a diferenciação.
Pensemos... E se no Brasil permeasse ainda um forte posicionamento cultural e institucional favorável ao racismo, iria se apoiar e ir contra a distribuição e socialização de materiais anti-racista porque fere os valores enraizados na sociedade? E os valores enquanto cidadão e a liberdade de ser das pessoas envolvidas como ficam? Não significa que queremos tirar a importância e valor das culturas e costumes, mas pensemos no que é mais prioritário à uma nação: doutrinas clássicas ou a dignidade humana? Assim como se deve respeitar os diversos posicionamentos culturais e costumes, que também se lute pela tolerância do ser social, respeitando-o em sua individualidade.
Como bem traz o texto constitucional logo em seu início, “deve ser promovido o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”² e que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”³. Então, não deixemos que questões religiosas voltem a interferir em decisões governamentais e no direito à informação e construção de uma sociedade livre e mais justa.
A intolerância à diversidade social representa um retrocesso à consideração dos direitos humanos e à dignidade humana. De nada adianta um aparato legal pautado pela cidadania e em defesa de uma sociedade livre e igualitária se os representantes oficiais não estão imbuídos intrinsecamente de seus preceitos para possibilitar a sua real efetivação. Não se deve tomar decisões coletivas subsidiada por apreensões particulares, afunilar a visão e inundar as decisões governamentais por pré-conceitos que vão de encontro à tolerância e direito de ser do outro. A proibição valorativa de material educativo sobre formas distintas de identidade de gênero representa uma derrota ao movimento LGBT, mas mais ainda à construção de uma sociedade que pense no futuro livre das amarras de um passado conservador e estigmatizador.

Suzianne Santos    



² Artigo 3º, inciso IV da Constituição Federal Brasileira
³ Artigo 5º, inciso VIII da Constituição Federal Brasileira

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Retratos - um vísivel invisível


- Seu dono, peço nada mais que um minuto de teus olhos atarefados, mas deixa que falo aqui na penumbra mesmo que nela já sou acostumado até porque por mais que na luz tivesse, faltaria clareza para você me reconhecer ao teu lado. A noite é minha amiga e a escuridão é abrigo, aqui sou por completo o que todo dia sou pra ti, um visível invisível, mas calma, diferença isso não faz, tua indiferença já me tirou as cores de todo dia. Enfim, meu minuto se acaba...o que quero dizer é que posso ser mendigo, louco, favelado, ladrão, o que queira chamar, mas não esqueça que também sinto...como sinto...e um dia, um dia já fui espelho teu, já fui do teu mundo. E agora, aonde vim parar? Horas vazio, outras anestesiado.Sou feito lixo, apenas um objeto descartável de validade social vencida. No inicio eu tentava viver, tentava me mostrar diante dos cegos por seleção, tentava pedir ao dono o mínimo de consideração, mas lá se vinha    “-Hun? Não. Pare, mire e veja, não dê esmola, dê cidadania”...C-I-D-A-D-A-N-I-A...mas me cite qual a minha?? Onde ela tá?? Letras garrafais não satisfazem minha fome e necessidade que são foraz.. Hoje sou parte do escuro invisível, não vivo nem sobrevivo, apenas passo.. Vá, podem ir..Não tenho fé mesmo de que vá melhorar...mas ainda trago um pouco de força para o que virá...

Suzianne Santos


* na foto - cidadão de papelão http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/732486/

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sem maiores julgamentos

Sempre me inquieta a pergunta “Você tem preconceito?” Todos querem responder que não, mas na verdade, penso ser uma pergunta sem resposta ou ao menos perguntada de forma errada.
Como posso dizer se tenho ou não se nunca me vi diante de uma situação onde meu lado moralmente julgamentista fosse colocado à prova? Como dizer não ter preconceito de gênero se no primeiro desencontro automobilístico (melhor, encontro), se solta aquele comentário “só pode ser mulher”?; como defender a diversidade se quando a situação se mostra ameaçadora o olhar volta-se para a diferença de cor, ou então não suporta vê casais gays e lésbicas manifestando seu afeto como qualquer outro casal?
A teoria difere-se da prática. Dizer que não tem preconceito é diferente de dizer que não quer ter. Muito simples e confortante afirmar não ser preconceituoso ou não rotular os outros, outra coisa é não olhar com discriminação e entender a questão sob diversos aspectos e pontos de vista.
Engraçado como rapidamente consideramos alguém de santo para monstro e vice-versa. Despertou minha inquietude ver em capa de revista chamando de monstro o atirador da escola Realengo, Rio de Janeiro (de novo essa questão). Não digo que apoio a atitude dele, pois de nada adianta tentar reparar injustiça com outra injustiça...mas convenhamos, aqueles que inicialmente encheram sua infância com rótulos e estigmas não seriam também “monstros”? Aglutinando-se ao histórico de vida dele, seriam ao menos uma peça de um “efeito dominó”.
Agora volto à questão...você pode se dizer livre de preconceitos se já retratou apelidos ou comentários um tanto maldosos a outras pessoas, se já olhou alguém com desconfiança, apenas por ser diferente de você? É, calma, não somos perfeitos e numa sociedade permeada por individualismo, “cada um em seu quadrado” e um constante medo do outro (terrorismo social que cada vez mais casos de violência trazem ao seu cotidiano) é difícil não produzir preconceitos.
Bem que queria uma sociedade onde não tivéssemos um código de barras esculpindo nosso rótulo, mas na medida que somos seres valorativos, subjetivos e de diferentes culturas e costumes, isso fica complicado. Ao menos não sejamos extremistas, “8 ou 8.000”. Ninguém é santo ou demônio em carne e osso, apenas somos um conjunto de fatos e consequências de sociabilidades. Para entender o comportamento dos outros temos que aprender a relativizar os pontos de vista, ampliar a visão e compreender ações sob mais de um plano. Isso não significa aceitar tudo, mas no mínimo tentar entender o outro sem roupagens estigmatizantes.

(Suzianne Santos)

domingo, 17 de abril de 2011

Sinceridade seja dita



Ela era muda, ou ninguém nada lhe perguntava. O fato é: não havia interesse em saber o que ela trazia consigo. De certa forma, ela produzia um medo, um receio tão ensurdecedor pelo o que ao torna-se voz causaria, sendo em vista sua omissão a melhor saída. Mas ela nem sempre seguia o que todos queriam. Já saturada de seu peso, que sinceridade seja dita. Ela ecoou como um rompante estridente, alumiando o que esconder queriam e não mais podiam.
- A consciência tem dessas coisas...

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Desabafo..."Peço a benção pra passar"

Porque tua falta ainda faz falta..porque pensar em não mais te encontrar a sorrir, dói na alma. Porque sou feita de presenças e saber da tua atual constante ausência e imaginar teu sofrimento vivido me consome por dentro como se a maior injustiça tivesse sido cometida..Só me resta o alento das lembranças tuas, sempre a acariciar no peito e trazer um leve sorriso salgado e que assim como todo carinho que se foi  e ficou, que se vá e fique em sua paz...


(Suzianne Santos)

terça-feira, 12 de abril de 2011

A menina que pro vento sorria



Perguntei pra'quela menina
o porquê ao vento sorria,
ela sem desalento dizia:
- O que mais você queria
se ele a mim acaricia
e leva a dor que aqui existia?

(Suzianne Santos)

sábado, 9 de abril de 2011

Atendendo a pedidos

     Atendendo a pedidos, abro os olhos, me alimento, pego o ônibus e dedico parte de mim pra te atender. Atendendo a pedidos, paro o sonho, lancho, corro e mediado serviços. Atendendo a pedidos, acordo, passo, não olho e vaicomosair. Atendendo a pedidos, ligo, transporto, mecanizo. Atendendo a pedidos, atendo a pedidos atendendo a pedidos. Já não reconheço mais teus traços e gestos, na minha frente só vejo números em catalogações. Atendendo a pedidos, ligo e desligo num movimento constante de uma máquina pós-moderna. Atendendo a pedidos, respiro tuas marcas e espero o sensacionalismo pra me abalar.Atendendo a pedidos, me hipnotizo e rotulizo. Atendendo a pedidos, ligo e não desligo. Atendendo a pedidos, não reflito, apenas digito. Atendendo a pedidos...para!me demito!desligo!Há algo que ainda se inquieta com esse comodismo que nada vê e tudo condena. Agora eu que digo, atenda ao meu pedido. 
     Ele não é um número, há anotações e descrições subjetivas por detrás daquelas lentes já vividas. Ele não é um insano, apenas um que sofreu, se trancou e se condenou à autodestruição. Ele não é a personificação do heroísmo, apenas alguém que pensou com altruísmo. Não espere o sensacionalismo para vê o que todo dia está na sua frente, fotos e reportagens não produzem inverdades ou fabricam bombas de moralismo social. Acorde e se desmecanize, tire esse invólucro que comerciais eleitorais trazem à sua mente. Atenda ao pedido de não atender e entender a si entender.

(Suzianne Santos)

sábado, 2 de abril de 2011

Sinta



A cada união silábica
sinta dor e prazer
Quero sugar cada gota tua
e te inundar num caos
de solidão à deriva
do inferno de ser,
mas também
quero te entorpecer
de alegrias partidas
e delíricos prazeres,
inquietá-lo dessa posição inerte
de quem apenas lê
Sinta,
Cheire,
Saboreie,
mas sinta ao seu bel prazer
que o que escrevo
são apenas momentos meus e teus
transcritos em intensa batida
Permita-se sentir,
Prove os dias,
Que'u tempero tuas linhas

(Suzianne Santos)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A favor das asas



Não aprisione
o que nasceu para o ar,
sua leveza e candura
só desejam brincar com o vento
Bela como um arco-íris
e de livre circular,
dança pelos caminhos
que a curta vida lhe levar
Muda pra viver
e vive de mudar,
a nada se torna constante
e o mundo a si pertence
Não se toma para si
o que é livre em essência
É borboleta gente,
asas de dom e de mente

(Suzianne Santos)

Fim



No fim tudo é tênue
No fim, tudo é cinza
No fim...

(Suzianne Santos)

sábado, 26 de março de 2011

Rubro


Cada palpitar teu
 arranha meu querer,
cada movimento, 
uma ânsia insaciável por ti
cada olhar,
 delícia pelo teu sabor
nos lábios, 
sussurro por teu corpo
teu cheiro, 
acaricia meus devaneios
tua boca, 
meu álibi e libido
sacia meu rubro desejo
e ao céu e inferno pertenço

(Suzianne Santos)

Salto ou chinelo?


Posso te destroçar e te encher de ais
Ou te dar o conforto pros teus galos,
Mas que me digam teus atos,
O que prefere e merece,
Um salto ou um chinelo?


(Suzianne Santos)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hiperatividade mental



Tento, mas ela luta
Grito, mas ela continua
Dou nós e reboliço, mas ela gosta é da tortura
Então me entrego,
Desisto,
Levanto, acendo a luz e rabisco
Inquieta mente inquieta,
Deleite para a caneta,
Tormento de meus sonos

(Suzianne Santos)

Sobre observar



Às vezes gosto de apenas observar,
Não significa que não vivo.
Na verdade, pulso junto com sua respiração
E a cada gesto, sinto o reflexo.

Vivo meus ‘eus’,
E como um espelho intriseco,
também sinto os teus.

(Suzianne Santos)

domingo, 13 de março de 2011

-



E a mesma boca 
que cala
é a que beija
e dar a cara a tapa,
não aspirando a eternidade,
mas a intensidade
enquanto há de querer ser

(Suzianne Santos)

sexta-feira, 11 de março de 2011

PORRA!...Qual é o seu?

Pega                                                                              Pedro,   
O                                                                                  Otávio,  
Rato senão                                                                    Renato e
Rebolo                                                                          Ricardo, 
A mão em ti!                                                                 Aquii!!


- - - - -                                                                            - - - - - 


Permitiu ele deixar                                                      Pensei que
Ofuscar sua                                                                 Odiava 
Razão,                                                                        Renata, mas  
Reciprocidade teve e                                                 Respirei fundo...já
Abandonou-a...                                                            Amava-a... 


- - - - -                                                                           - - - - - 


Por mais                                                                      P_________________
Oponente que seja                                                     O_________________  
Radicalizo,                                                                  R_________________
Revolto,                                                                       R_________________
Abalo a tua soberania!                                               A_________________


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Diga aí, qual é o seu PORRA! Comente    ;]

(Suzianne Santos)



quarta-feira, 9 de março de 2011

Descartáveis e recicláveis

Estava pensando na vida, seus papéis sociais e constantes variações e cheguei a consideração de como esta sociedade regida por normas e parâmetros de utilidade social nos toma em parte como seres descartáveis. É, em parte ainda sirvo socialmente, em outras, torno-me invisível, desmerecedor de atenção...descartável.

Sim, primeiramente enquanto criança e enquanto filhas(os) somos por vezes privados de liberdade e autonomia, afinal, quando se esta a mercê da “voz da sabedoria” e das condições básicas para a vida (alimentação, roupas, moradia, higiene, lazer) pelo zelo de nossos pais e mães, considere já descartada sua plena independência.

Pobres, desletrados e em condições de vida vulneráveis são descartáveis como trabalhadores, consumistas-mor, cidadãos ou até como pessoa humana. Ao ser examinada(o) por determinada enfermidade em um órgão vital, às vezes, ‘jogam fora’ o resto do meu corpo, fatores psicológicos, emocionais, sociais e ambientais, descartando minha integralidade. Àqueles com transtorno mental foi tirada a total normalidade, transformando uma doença em prisão, transformando uma doença em plena incapacidade. Aos inimigos, descarto-me como amiga; aos amigos, como amante; e, ao amante, como inimiga.

O que o mundo consumista e laboral não vê como útil é descartado a todo momento, desconsiderando, por exemplo, meu direito e livre-arbítrio à vontade de nada fazer, ao ócio e diversão. “Não, pra que isso??”, “Para que incentivar preservação e mostras culturais se seu lucro é simbólico, imaterial?” É descartável...sua subjetividade e interesses pouco interessam...

Porém, por mais que queiram nos lançar e enquadrar em papéis sociais, nos descartar principalmente enquanto sujeitos, também somos recicláveis. Temos a capacidade de aprender e recriar nossa existência dando nova utilidade ao aparentemente descartável. Por mais que no lixo nos coloquem, do lixo a vida é recriada. Reciclamos a mente e usamos a criatividade para sobreviver à dança das exigências sociais. Vivemos num constante movimento de descarte e reciclagem, até que se chegue ao ultimo processo, até que me seja descartada a vida e meu corpo seja reciclado pela natureza...

E assim como as pessoas, pensamentos também são descartáveis e recicláveis, por isso, ao terminar de escrever, e você de ler isto, talvez, talvez reconstruiremos nossas idéias ou, quem sabe, como letras soltas, talvez de nada mais nos valha...


(Suzianne Santos)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Embriaga'lma


A gente se “mata” sempre um pouco
Pra alegria vir em dobro

A gente transforma um nada
Em motivo de tudo comemorar

A gente embriaga’lma
Para devolver tua leveza inata

A gente extrapola nas maluquices
Antes que as normas de mim as tire

A gente diz a gente
Porque só,
Não remo o barco
Porque só,
A conta não pago

A gente se “mata” sempre um pouco
Pra alegria vir em dobro

(Suzianne Santos)

\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\



Da razão ao sentir,
Consumo os extremos,
Vivo montanha-russa


(Suzianne Santos)

terça-feira, 1 de março de 2011

Grito


Por entre letras alinhadas
E dedilhar das teclas,
entorpece a alma inquieta
de quem vê e não se empedra,
de quem ouve e se dilacera

Rebuscadas ou desajeitadas,
a mão se apodera
de poder letrístico
que antes deter quisera,
mas como calar
a mente a fervilhar?

Grita!
Respira...
Solta tua linha
e lança de si
a inquietude
que descompassa tua rima

Grita!
Não titubeia!
Grita
o que te rebeldia ou alieniza
o que te silencia e esvazia,
que cá eu não julgo

Grita!
Transforma a ausência em nostalgia,
a dor e raiva em melodia,
a inquietude em poesia...
Grita.


(Suzianne Santos)

Dreams II – nostalgia efêmera

Encontrei você no escuro...
Lembrei de tuas palavras,
braços e alegrias,
pena que despertou o dia...

É essa efêmera nostalgia,
que ao peito acaricia
e também desperta o que afligia.
Maldita ausência sentida


(Suzianne Santos)
Para V.M.

OCA


Observo inerte   
    Cegas vibrações.   
         A nada me atenho...


(Suzianne Santos)




domingo, 27 de fevereiro de 2011

Contraditória


Se procura abraços,
dou-te doces carinhos que te esmagam.
Se queres romance em palavras,
darei uma bela melodia ao avesso.
posto que o contraditório és parte de mim,
Por isso me veja certa,
mas entenda errada..
me traduza torta
e me verá corretamente.
Apenas não lamurie uis, ais, huns..
que uma hora a criança cansa,
se acomoda
e não quer mais brincar
na corda bamba


(Suzianne Santos)

A priori


Há quem diga que 
obstinados e organizados 
inventam listas de prioridades,
no mínimo, 
a priori...
a qual minha pessoa é uma exceção. 
Por mais listas e balanceamentos 
que se façam, 
minhas prioris 
sempre viram 
uma página de cabeça pra baixo. 
Sem ordem, 
destino, 
muito menos sentido. 
O ínfimo ganha destaque 
e o princípio se torna desinteressante. 
Dia e noite, 
corrompo minha ordem e seleção. 
Sem voz autoritária, 
internamente subornada.

(Suzianne Santos)

Entre flores e espinhos*


Quando oferecida uma rosa

é esperado um mínimo de afeição.
Dei-te a beleza em gestos,
mas renegaste cada pétala,
agora fique com o rubor
e o estilhaçar
de Seus espinhos, em mim


(Suzianne Santos)


* Sentimentos de alheios transcritos

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quando os olhos se apagam...



Tão estranho conjugá-lo no passado,
agora pouco tão presente
e esta ausência 
que se faz concretamente abstrata
dilacera e sufoca
como um manicômio interno
que as lembranças e o desacreditamento
remetem hora ou outra ao nosso ser..
De doces abraços ao sal deslizando na face,
do sorriso largo ao coração apertado,
mas por mais que dificil seja
a sensação de espaços vazios,
o carinho persiste
e lembranças suaves
acarinham o que se fez triste
e toda palavra e gesto
esses,
carinhosamente,
levaremos conosco
Afinal, "tu te tornas 
eternamente responsável 
por aquilo que cativas"

(Suzianne Santos)

Para um amigo querido..fique em paz...V.M. 



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Reverso

Trago tanto de ti comigo
que não consigo  diferenciar
teu mais fino traço dos meus,
ao passo que
não me reconheço mais
...
Saudades de mim.

(Suzianne Santos)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O que te toma quando as luzes se apagam?

PS: uma noite, me veio uma idéia que deu idéia a outras histórias, mas quero a participação de todos, por isso a enquente! o que você faz quando somem as luzes? pensamentos, ações, tudo é válido. Comenta aí, e me ajuda  na idéia de outras idéias!!  ;]


Alegrias,
Dores
Rangores,
Prazeres,
Ausências,
Passos tortos ou apurados,
Vontades reprimidas,
Pensamentos recorrentes,
Atitudes inconscientes
ou automáticas,
Refúgio ou perigo,
O que te toma quando a luzes se apagam?
O que na mente te ilumina persistentemente
Quando a escuridão insiste no invisível?


(Suzianne Santos)

Quando as luzes se apagam (Início)

[18:00h]



Enfim o fim!!!
Adeus você, até outro amanhecer!
Hahaha!!...sem graça...


Enfim...o fim de mais um dia laborioso
O sujeito amarelado do céu se despede
E dar espaço ao luar e suas artificiais luzes


É interessante o quanto a natureza humana
se incomoda com a escuridão
Procura sempre e sempre sombras de luz,
Seria isso uma forma de proteção??


Todos querem ver,
Querem abrigo,
apalpar a realidade outrora visível.


É como se temessem a penumbra,
Como se as luzes calassem o que a alma aprisiona
ou seria a escuridão a aprisionar a alma..??.. Enfim..


Ahhh
Queridos ouvintes
Mas hoje não é um dia qualquer
Permita-me tira-lo do cenário
rotineiramente circular de sua vida,
pois hoje a noite é inquieta e arredia


Passageiro, não passe despercebido
E dilate as pupilas para o intempestivo!
Posto que se aproximam episódios
de uma cena invertida


Sem mordarças ou cadeados,
a noite revela as vozes secretas
da escuridao silenciada
e veremos com tamanha nitidez
o que ocorre quando as luzem se apagam
e o “invisível nos salta aos olhos”


(Suzianne Santos)