segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sem maiores julgamentos

Sempre me inquieta a pergunta “Você tem preconceito?” Todos querem responder que não, mas na verdade, penso ser uma pergunta sem resposta ou ao menos perguntada de forma errada.
Como posso dizer se tenho ou não se nunca me vi diante de uma situação onde meu lado moralmente julgamentista fosse colocado à prova? Como dizer não ter preconceito de gênero se no primeiro desencontro automobilístico (melhor, encontro), se solta aquele comentário “só pode ser mulher”?; como defender a diversidade se quando a situação se mostra ameaçadora o olhar volta-se para a diferença de cor, ou então não suporta vê casais gays e lésbicas manifestando seu afeto como qualquer outro casal?
A teoria difere-se da prática. Dizer que não tem preconceito é diferente de dizer que não quer ter. Muito simples e confortante afirmar não ser preconceituoso ou não rotular os outros, outra coisa é não olhar com discriminação e entender a questão sob diversos aspectos e pontos de vista.
Engraçado como rapidamente consideramos alguém de santo para monstro e vice-versa. Despertou minha inquietude ver em capa de revista chamando de monstro o atirador da escola Realengo, Rio de Janeiro (de novo essa questão). Não digo que apoio a atitude dele, pois de nada adianta tentar reparar injustiça com outra injustiça...mas convenhamos, aqueles que inicialmente encheram sua infância com rótulos e estigmas não seriam também “monstros”? Aglutinando-se ao histórico de vida dele, seriam ao menos uma peça de um “efeito dominó”.
Agora volto à questão...você pode se dizer livre de preconceitos se já retratou apelidos ou comentários um tanto maldosos a outras pessoas, se já olhou alguém com desconfiança, apenas por ser diferente de você? É, calma, não somos perfeitos e numa sociedade permeada por individualismo, “cada um em seu quadrado” e um constante medo do outro (terrorismo social que cada vez mais casos de violência trazem ao seu cotidiano) é difícil não produzir preconceitos.
Bem que queria uma sociedade onde não tivéssemos um código de barras esculpindo nosso rótulo, mas na medida que somos seres valorativos, subjetivos e de diferentes culturas e costumes, isso fica complicado. Ao menos não sejamos extremistas, “8 ou 8.000”. Ninguém é santo ou demônio em carne e osso, apenas somos um conjunto de fatos e consequências de sociabilidades. Para entender o comportamento dos outros temos que aprender a relativizar os pontos de vista, ampliar a visão e compreender ações sob mais de um plano. Isso não significa aceitar tudo, mas no mínimo tentar entender o outro sem roupagens estigmatizantes.

(Suzianne Santos)

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